sábado, setembro 30, 2006

Luísa

A Luísa nasceu na década de 20 do século passado, nas lindas terras do Douro e no seio de uma família muito, muito pobre.
Tal como a irmã mais velha que vivia com uma tia, a Luisa foi entregue aos cuidados dos avós maternos que, embora não vivessem na abundância, tinham uma situação financeira muito melhor do que os seus pais.
Segundo ela contava muitas vezes, os avós(ela portuguesa e ele espanhol da Galiza) eram um casal super feliz, com muito sentido de humor e meigos e doces que pareciam mel, qualidades que ela herdou para toda a vida.
Luisa viveu neste mundo encantado até aos 7 anos, altura em que os dois faleceram com poucos meses de intervalo.
Retornou a casa dos pais que, devido à extrema pobreza, a puseram a trabalhar como empregada doméstica(a servir como se dizia nesse tempo)na casa duma das famílias abastadas lá da terra.
No fim da semana era o pai que se encarregava de lhe ir buscar o salário(era pequena para andar com dinheiro mas não para trabalhar).
Luisa cresceu, tornou-se uma linda moçoila e era o alvo dos olhares dos rapazes da sua geração.
Um deles, filho da família mais rica da aldeia apaixonou-se loucamente por ela amor que era correspondido. Formavam um par lindíssimo, ela com 16 anos e ele um pouquinho mais velho.
Mas a família dele, ultra conservadora, não queria que o menino rico namorasse a menina pobre(antes vê-lo morto do que casado com tal rapariga, dizia a mãe) e assim tiveram que se separar.
Luisa veio trabalhar para Lisboa, não sei se com o desgosto, e ia sabendo que o moço definhava de dia para dia. Faleceu no ano seguinte.
Nessa altura a mãe dele chorava, dizia que tinha sido castigo e como seria feliz se o pudesse ver casado com tão boa mocinha. Já era tarde.
Nos trabalhos por onde passou era escravizada até mais não,como acontecia com todas as empregadas domésticas. Passou "as passas do algarve" como ela dizia.
Um dia, uma amiga de vários anos, convidou-a para madrinha do menino que acabava de nascer. O marido convidou o João de quem era também muito amigo.
No dia do baptizado e no fim da cerimónia, o padre disse que os padrinhos, durante 6 meses, não se podiam casar. Luisa ficou irritada porque eles não se conheciam.
Mas o João, bom malandreco, aproveitou para meter conversa e aproximar-se dela.
Algum tempo depois começaram a namorar e Luisa viu nele o homem da sua vida. Nunca mais deixou de o amar loucamente.
Mais tarde engravidou e foram viver juntos tendo em casa o mínimo que se possa imaginar mas, mesmo assim ela sentia-se uma mulher feliz.
Essa felicidade teve o seu ponto mais alto no dia em que nasceu a sua menina.
Nos três anos seguintes teve mais 2 filhos.
Luísa começou a perceber que o João não era o que ela pensava. Sempre na paródia, chegava a casa tarde e a más horas e, muitas vezes embriagado.
Ele vinha duma famíla onde só havia mulheres que lhe faziam tudo e o traziam na palminha das mãos. Nunca foi uma pessoa meiga nem teve um gesto carinhoso que os filhos tivessem visto em todos os anos que viveram juntos.
Mas ela continuava a amá-lo e dizia que se um dia o perdesse, nunca mais nasceria sol que a aquecesse.
Sete anos depois da 1ª filha nasceu outra menina que passou a ser o bijou da família.
Passou por um enorme susto quando, a sua filha mais velha, então com 3 anos, adoeceu gravemente, com um problema incurável segundo lhe dizia o médico da família.
Luisa virou céus e terra, gastou o que o casal tinha, pediu emprestado o que não tinha, mas a garota salvou-se embora tivesse ficado cheia de problemas para o resto da vida, que lhe vieram a causar muitos sobressaltos pois sentia-se impotente para a poder ajudar como gostaria.
Viviam todos numa casa com poucas condições e, o sonho de Luisa era ter a sua casinha, bonita e novinha como via muitas. Mas o marido nunca se mostrou muito interessado, talvez com medo de que não suportassem as despesas.
Quando a filha mais velha, sua confidente e amiga chegou aos 20 anos e, porque tinha já o seu emprego, foram as 2 à procura de casa mesmo contra vontade do João.
Encontraram, trataram de tudo e, na véspera da mudança deram-lhe a chave para poder entrar em casa no dia seguinte.
Tinha sido sempre assim. Se Luisa não tivesse um feitio forte que foi impondo em certas ocasiões, não haveria nada que se comprasse para aquela casa mesmo que fosse muito necessário.
Finalmente e depois de uma vida de trabalho e alguns desgostos, a Luisa conseguiu realizar o seu sonho. Mudaram-se em Fevereiro de 1969.
Mas o sonho durou pouco. Uns dias antes do Natal desse ano, Luisa foi às compras com a filha mais nova e uma pequenita que morava no mesmo prédio. Ela adorava crianças. Quando saía com os 4 filhos levava sempre mais alguns, e, quando eles cresciam passava a ser sua confidente. Os amigos dos filhos adoravam-na.
Nesse dia foi atropelada e nunca mais voltou à sua casinha nova.
Faleceu no dia 26 de Dezembro falando nos filhos e no marido, com apenas 47 anos de idade.

Em homenagem à melhor mãe do mundo. A minha.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Inveja

Hoje, quando me dirigia a uma consulta médica, fui abordada por uma vendedora ambulante de etnia cigana.

Pensei que me quizesse "obrigar" a comprar alguma camisola daquela maneira insistente que toda a gente conhece.

Mas, não. Disse-me muito senhora de si que eu estava cheia de mal de inveja e se queria que me lesse a sina.
Agradeci mas disse-lhe que estava com um pouco de pressa(e era verdade) e, sorrindo, fui pensando pelo caminho:

O que é que alguém me pode invejar?

A falta de saúde, a falta de afecto ou a falta de dinheiro?

quinta-feira, setembro 21, 2006

Mulher de coragem - 2

No último post falei-vos duma mulher - Alice - que teve a coragem de terminar com a vida.

Hoje, e porque ontem a encontrei ao sair de casa, vou contar-vos a história de Elisa, e sua coragem de se manter ainda por cá.

A Elisa nasceu e cresceu num bairro de barracas e teve sempre falta de tudo.
A mais só teve maus tratos e muitos irmãos.

Pouco estudou porque os pais necessitavam do seu salário que ganhava embrulhando rebuçados ou como empregada doméstica.

Desde garota que se perdeu de amores por aquele que ainda hoje é seu marido.
Ele, miúdo também, gostava muito dela e faziam um parzinho apaixonado que dava gosto ver.

Depois de casados começaram a chegar os filhos, muitos para quem tinha tão poucos rendimentos e um alojamento sem condições.
A Elisa só não engravidava quando estava grávida e quando saía com os seus bebés da maternidade, despedia-se com um "até para o ano".

Um dia ouvi uma pessoa muito querida, perguntar-lhe porque se estava a encher de filhos quando não tinha uma vida capaz para lhes dar.
Elisa respondeu que o marido era muito amigo dela.
Confesso que nunca percebi a lógica da resposta e sempre pensei que ali havia uma boa dose de irresponsabilidade da parte dos dois.

Entretanto, e ao fim de cá estarem 9 crianças, alguém conseguiu pôr um bocadinho de juízo na cabeça da Elisa que começou(e não mais deixou) a fazer contracepção.
Hoje arrepende-se amargamente de não ter feito tal coisa muitos anos antes.

Como o ordenado do marido não podia chegar para tudo, sempre me lembro de a ver a pedir ajuda a todos os que moravam à sua volta.
Sei que se deitava muitas noites sem se alimentar e a chorar pela vida que tinha escolhido.

Às vezes parece que miséria atrai miséria e, os filhos criados naquele ambiente, foram crescendo com fome e vícios.

Durante um tempo soube que a Elisa andava melhor de vida e fiquei muito contente.
Os miúdos tinham começado a trabalhar o que permitia algum desafogo.

Só que o trabalho deles não era bem um emprego.
Como muitos jovens tinham entrado no maldito mundo da droga.

Elisa viu passar pela prisão 5 dos seus 9 filhos e chegou a ter 3 na cadeia ao mesmo tempo.
Era vê-la a correr de um lado para outro para conseguir estar um bocadinho com cada um deles, cheia de sacos de roupa lavada e algum mimo que tinha podido comprar.

Foram anos e anos nesta vida ingrata aliada à miséria que voltou aquela casa.
Voltou a mendigar aqui e ali, a pedir emprestado(quando chega ao fim do mês paga o que deve e fica logo sem dinheiro) a ir a consultas médicas porque já tem bastantes problemas de saúde e depois não ter maneira de comprar os medicamentos, etc.,etc..

Entretanto, com a demolição do bairro, deram-lhe uma casa nova mas onde continua a faltar tudo.

Ontem vi-a. Um palito, cansada porque tinha percorrido a pé uma enorme distância e hà três dias que não fazia comida em casa. Vinha pedir ajuda a um dos filhos.

Fiquei doente por não a poder ajudar como ela necessitava e, pelo caminho fui pensando como é que esta mulher ainda tem coragem de se manter viva.

terça-feira, setembro 19, 2006

Mulher de coragem

A Alice era a mais nova de 10 irmãos embora 5 tivessem partido ainda crianças.

Não se pode dizer que teve uma infância feliz mas pelo menos cresceu numa família abastada.
Com a morte do pai que entretanto tinha dado cabo da fortuna, teve que aprender uma profissão e até era boa no que fazia.

Enamorou-se e alguns anos depois casou. Como era normal naquele tempo, deixou de trabalhar fora de casa para de dedicar ao marido e à vida doméstica.
Anos mais tarde, talvez anos demais, teve o único filho que era o ai-jesus dos pais e de 3 tias solteiras que entretanto tinham deixado a vida activa e iam vivendo lá por casa, ajudando em tudo o que era preciso.
Parecia que tinha tudo o que uma mulher desejava naquela altura.
Uma casa bonita, sempre super limpa(tinha a mania das limpezas)uma boa situação financeira, um filho saudável e um marido que parecia estimá-la(digo parecia porque mais tarde veio a saber-se que a estima e o respeito eram poucos).

Quando as irmãs adoeciam era ela que as tratava a quando a morte chegou para 2 delas, foi ela que sempre esteve às suas cabeceiras.

Uns anos mais tarde a Alice começou a não andar bem.
Deixou de se preocupar com a casa e com a família e passava os dias triste e sem vontade de fazer nada.

Foi seguida por vários psiquiatras que a enchiam de medicamentos, de tal forma que já nem vontade tinha para se levantar.

Tentou o suicídio por 2 vezes mas feliz ou infelizmente numa das vezes o marido chegou do médico muito antes do que era costume e na outra o irmão resolveu fazer-lhe uma visita sem avisar como se pressentisse que algo não estava bem.

O marido também ficou preso a uma cadeira de rodas mas o filho providenciou para que alguém os tratasse com a ajuda da irmã ainda viva.

Uma manhã Alice acordou bem disposta, fez questão de ser ela a tratar do marido e depois disse que lhe apetecia dar uma voltinha.Saiu e não mais voltou.

Aos olhos de muita gente foi um acto de cobardia.

Mas para mim e ao fim de alguns anos, a Alice voltou a ser uma MULHER DE CORAGEM.

domingo, setembro 17, 2006

A minha Fada Madrinha - 2

A fadinha dos blogs está de parabéns, HOJE DOMINGO 17 e não no dia 15 como, por lapso apareceu no post.

Isto é o resultado do analfabetismo nestas coisas da blogosfera.

Desculpe Fada Madrinha mas não lhe quis fazer a pergunta para não dar muito nas vistas.

Muitos beijinhos.

sexta-feira, setembro 15, 2006

A minha Fada Madrinha

Hoje, a C_mim, mais conhecida por fadinha dos blogs, está de parabéns.

Desde que a minha querida arara me despertou para este mundo fascinante da blogosfera, não passei um dia sem que deitasse um olho aos lindos posts da fadinha.

Comecámos a trocar ideias, primeiro só as duas e depois com outras amigas virtuais, criando o nosso famoso chá das 5(que era mais às 9) em que falávamos de tudo e de nada passando uns bons momentos de distracção.

Soube entretanto que C_mim está sempre pronta a ajudar quem dá os primeiros passos neste mundo encantado e, por isso foi promovida a fadinha dos blogs pela nossa também muito querida, Ursa Mãe.

No dia do meu aniversário C_mim e arara azul ofereceram-me o blog mais bonito dos que tenho visitado e a fadinha ainda me esteve a ensinar a trabalhar com ele, perdendo parte do seu precioso tempo.

Desejo muito que passe o dia de hoje super feliz, rodeada pelas pessoas que ama.

Um beijinho muito grande de parabéns Fada Madrinha.

sábado, setembro 02, 2006

A Minha Arara

Hoje, a minha querida arara, está de parabéns.

Gostava de escrever qualquer coisa muito bonita mas, está a faltar-me a inspiração.

O que dizer então? O que já tenho escrito muitas vezes?

A minha arara é um ser excepcional, fora de série, amiga nos maus momentos (que são tantos) mas também nos bons que já vão sendo alguns com a sua preciosa ajuda.
É uma pessoa que nos escuta e compreende. Mesmo quando tem ela própria grandes problemas e talvez necessitasse de quem lhe desse um colinho, parece esquecer-se de que não está bem e preocupa-se demais com os outros.

Conhecê-la foi sem dúvida a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos.

Este aniversário é com certeza um dos mais felizes da sua vida e, eu torço para que esta felicidade dure, dure, dure.

Do fundo do meu coração, um beijinho de parabéns(duplos) do tamanho da minha admiração e carinho.