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BEATRIZ

Hoje, gostava de compartilhar convosco, uma história que a minha mãe me contava quando eu era miúda e que eu gostava de ouvir vezes sem conta.
Espero que desperte também um pouquinho da vossa atenção, de forma que consigam lê-la até ao fim.

Na 2ª metade do século dezanove nasceu em Lisboa uma menina linda, muito amada e desejada, fruto dum amor tipo conto de fadas.
A menina, a quem deram o nome de BEATRIZ, cresceu numa família feliz e abastada, num palacete na zona de Santos, até se tornar numa linda mulher.
Como era normal naquele tempo, algumas famílias de posses davam às filhas uma educação esmerada cuja finalidade era prepará-las para um casamento futuro.
Assim, além dos bordados e como mandar fazer certas tarefas domésticas, a Beatriz aprendeu a tocar piano e a falar francês(como o gato maltês) e outras matérias que fizeram dela uma pessoa culta.

O pai, Capitão de Mar e Guerra, embora com um aspecto austero, era um doce de pessoa e quando voltava das suas viagens era bom de ver a ternura que transbordava daquela família.

Um dia convidaram a filha do senhor Capitão para madrinha de baptismo (penso que é assim que se diz) do novo navio que ele iria comandar.
Partida a garrafa e depois dos discursos da praxe, seguiu-se uma festa como era costume.

No meio de tanto jovem bonito e inteligente(e uns tantos parvos também) a Beatriz deitou o seu olhar lindo que passou a alguns descendentes(olhos verdes acastanhados que com o sol parecem amarelos)para o fogueiro do navio que de bonito não tinha nada e de culto também não, mas que era um pouco herói, condecorado e tudo, porque um dia em que uma das caldeiras do navio se incendiou, pôs em risco a sua própria vida, extinguindo o incêndio que poupou a vida a todas as pessoas que iam no navio.
Penso que, bastantes anos mais tarde, faleceu vítima das sequelas deste incidente.

E assim aconteceu, primeiro o namoro e depois o casamento, sempre com a aceitação da família da Beatriz(confesso que isto é uma coisa que sempre me confundiu).
Quando se casaram ela amava-o de verdade e deixou de ver apenas o "herói".
Ela nunca a deve ter amado mas devia sentir-se orgulhoso de ter ao seu lado uma mulher linda e prendada e filha do seu chefe.

Um tempo depois, já o casal tinha os primeiros filhos, o Sr. Capitão regressou muito doente duma viagem.
Diz-se que pode ter sido um virus que se alojou nalguma parte do corpo mas, apesar de gastarem muito do dinheiro que tinham, ele faleceu nos braços do seu amor depois de meses de profundo sofrimento.
Claro que, com o desgosto, a sua esposa amada faleceu 6 meses depois.

O marido da Beatriz fez o que hà muito desejava.
Pegou na mulher e nos filhos e foi viver para a sua terra natal, uma aldeia muito pequena à qual ela nunca se habituou.
Os próprios irmãos dele criticaram-no imenso porque era, para eles, uma vergonha levar uma menina daquelas para um sítio que nada tinha a ver com ela.

Beatriz foi muito infeliz a ponto de descurar um pouco a casa e os filhos(pelos sintomas parece-me que seria uma bruta depressão) e foi a filha mais velha que tal como a mãe detestava tudo aquilo, que começou a preocupar-se e tratar dos irmãos.
Além de infeliz ainda era humilhada e toda a gente sabia.
O marido que, nessa altura ainda não tinha dado cabo da fortuna, ia arranjando amantes as quais mandava a casa da mulher buscar alimentos com ordem dele.

Várias foram as vezes em que conseguiu pegar nos filhos e chegar à estação dos Caminhos de Ferro para voltar para Lisboa. Mas à última hora havia sempre um "amigo"que informava o tirano.

Depois da sua morte(diz-se que foi muito dolorosa), Beatriz e os filhos que lhe restavam(teve 10 mas só 5 vingaram), vieram de novo para a Capital.

Claro que foi uma época muito dura para todos mas, penso que foi também uma libertação.

Alguns anos depois o filho(o menino querido no meio de 5 mulheres que lhe faziam tudo), deu a volta à cabeça duma outra santa que o amava perdidamente e, alguns meses depois nasceu uma pequerrucha a quem deram o nome da avó.
Beatriz teve a felicidade de ter a "sua menina" nos braços mas por pouco tempo.
Faleceu 3 meses depois, segundo penso vítima de cancro que lhe provocou anos de sofrimento.

Peço que não me levem a mal mas nunca gostei do meu nome.

No entanto tenho um carinho difícil de explicar pela minha AVÓ BEATRIZ que sempre admirei apesar de nunca a ter conhecido.

Meiguinha,
Li a história e pude compreender melhor a sina de mulheres das gerações passadas, frutos de preconceitos e de um romantismo que só as prejudicou e que, me parece, ainda se repete até hoje em muitas famílias, sobretudo no interior, onde a falta de informação se une a conceitos ultrapassados. Há que sacudir os restos e seguir adiante fazendo uma nova história! um beijo grande da Ursa.

Olá Melguinha, sabe contar muito bem. Beatriz é nome bonito.A vida é recheada de surpresas e as suas voltas são surpreendentes, por isso é bom poder registá-las e lê-las. :) Bj

A que traz felicidade! assim se aprende a amar ou a detestar um nome...porque o menino papá tinha os genes do fogueteiro corajoso e mau carácter e não os da mamã doce! As histórias das nossas vidas são costuradas de pequenos grandes sinais, pequenos detalhes, grandes nadas... e todos com os nossos defeitos e qualidades!Beijinhos, tia oficial do Rei (se for Rei..., se não é Beatriz!)

Cada vez que cá venho sinto-a triste embora adore os seus posts... Beijinhos cheios de raios de sol e uma boa semana.

P.S. É uma excelente contadora de histórias (ou será estórias? Nunca sei...)

oi Meiguinha,
Quero outra história! um beijo de ursamãe!

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